sexta-feira, 13 de junho de 2008

Fernando Pessoa

Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro em mim gela,
E o leve Outono, e as galas, e o marfim,
E a congruência da alma que se vela
Com os sonhados pálios de cetim?

Disperso... E a hora como um leque fecha-se...
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar...
O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se...

E, abrindo as asas sobre Renovar,

A erma sombra do voo começado
Pestaneja no campo abandonado...

Fernando Pessoa
La condition humaine, Renée Magritte

3 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Poema e imagem a condizerem-se excelentemente.
Obrigado.

Anónimo disse...

A Méon

Eu é que agradeço o comentário simpático.

Solange disse...

Esse blog é inteirinho lindo e de muito bom gosto.
Parabéns