"Sempre tive a sensação de pertencer a outro lugar. Estranhava as palavras com que me falavam e achava esquisito as pessoas não ouvirem o que eu ouvia. Na escola, no liceu, na faculdade, a sensação de não ser daqui inquietava-me. Aprendi uma maneira de me comportar que não era minha, um idioma que não coincidia com o meu, emoções que me não provocavam qualquer eco interior. No fundo da minha alma estava de visita e cabia-me, por necessidade e educação, adoptar os hábitos nativos, que se me afiguravam complicados e inúteis. Ainda hoje me surpreende as pessoas julgarem que não tenho sotaque e não é à língua que me refiro, é a tudo o resto. Falo pouco, participo pouco e não faço vida social: passo jantares inteiros em silêncio, perco-me nas ruas, não acerto com um itinerário para amostra [...]"
As palavras não são minhas, são de António Lobo Antunes, mas bem podiam ser. Ninguém descreveu melhor até hoje este sentimento de inquietação que sempre me acompanhou, esta sensação de pertencer a outro sítio que não aquele em que me encontro.
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